quarta-feira, agosto 26, 2015

Aprender a contar gastos é uma das melhores formas de enfrentar a crise

Por Francieli Corrêa

A prática de economizar e cortar gastos sempre foi recomendada, mesmo em períodos de alto crescimento, mas com a economia patinando e a crise ganhando força, ela assumiu status de obrigação. Se a escassez de crédito, os juros elevados, a inflação e a diminuição do consumo começam a assustar o empresário, é hora de reduzir as despesas. Isso na verdade, deveria ser constante na vida do empreendedor, mas o dono do pequeno negócio só toma uma atitude quando as coisas começam a apertar de verdade.

O coordenador do Centro de Empreendedorismo da Fecap, Edson Barbero, é ainda mais incisivo na questão de se preparar para a crise. Para o especialista, o empresário costuma até mesmo negligenciar a questão. “Em períodos de bonança, ele não enxerga a água escorrendo, muitas vezes, vagarosamente pelos cantos. Mas tem de cortar sempre. Esse pode ser um aprendizado para as crises econômicas.”

Além de ter noção de que isso é algo importante na vida do negócio, também é preciso saber qual estratégia seguir. O professor dos cursos de MBA da FGV, Márcio Barros Souza, prefere usar o termo racionalização ao invés de corte ou redução.

“Praticamente todas as empresas estão passando por uma revisão. Virou uma obrigação desde o ano passado. Hoje o pequeno ou médio deveria ter uma filosofia de austeridade em qualquer situação.” Basicamente, Souza aponta quatro passos para o empreendedor seguir: colocar tudo na ponta do lápis, categorizar as saídas de caixa, eliminar aqueles gastos postergáveis e rever os estruturais e estratégicos. A tarefa pode parecer simples, mas sua eficácia está nos detalhes. “Só o fato de fazer uma lista de todos os gastos já dá um trabalho relevante”, afirma o especialista.

Para enfrentar esse período, Ciro Pereira, sócio da Naxos, contratou um funcionário para cuidar das melhorias de processo, afim de evitar a perda de materiais e reduzir gastos que muitas vezes não ficam evidentes. A empresa de utilidades domésticas, por exemplo, implementou um sistema capaz de dizer qual transportadora cobra o melhor frete no momento da contratação do serviço. Antes, o processo era manual e gastava-se muito com ligações telefônicas.

O empreendimento de Santa Catarina ainda renegociou contratos de telefonia e buscou nacionalizar os fornecedores. “Procuramos cortar despesas e não investimentos”, pontuou Pereira. Segundo ele, a área de desenvolvimento de produtos é algo estratégico. Inicialmente, a Naxos foi criada para vender apenas acendedores de fogão. Outros itens passaram a fazer parte do portfólio, mas a produção continuava terceirizada.

Há três anos, o principal produto da empresa foi copiado pela China e isso resultou em queda nas vendas.  “Passamos a ser indústria, com um portfólio enxuto, e a trabalhar com itens diferenciados para patentear e ter exclusividade nas vendas" explicou. Pereira conta ainda que não cortou a participação do negócio em feiras e espera crescer 15% em comparação com o ano passado, quando faturou R$ 12 milhões.

O coordenador da Fecap, Edson Barbero, ressalta ainda que o empreendedor precisa conhecer bem o próprio negócio para não cortar errado e provocar verdadeiros estragos. Para ele, é temeroso, por exemplo, fazer reduções drásticas de uma só vez. “O drama é grave, mas não podemos deixar a cabeça só dentro da água. Lá na frente haverá momentos de crescimento. O empresário precisa saber que pequena empresa não é corrida de 100 metros, é uma maratona”, afirmou o especialista em negócios.

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