quarta-feira, setembro 30, 2015

As coisas que pessoas de diferentes gerações me ensinam todos os dias

Por Bruna de Miranda

Trabalhando há 2 anos e meio em uma loja do centro de Blumenau, tenho histórias sobre conflito de gerações de sobra.  A papelaria foi inaugurada 13 anos atrás, pouco tempo depois que a antiga Papelaria Blumenauense (que havia completado 100 anos aberta) faliu, fato que acabou por trazer todos os velhos clientes de lá, para a Grafitte.

Atendemos pessoas de todas as idades, desde jovens até idosos. As diferenças de comportamento são muito visíveis. Os jovens insistem em entrar no local em bandos, depois da aula, geralmente precisando de materiais para fazer seus inúmeros e incontáveis trabalhos. Eles entram fazendo pedidos no estilo:

- Tipo assim, a gente vai fazer um caderno de scrapbook, e tamo precisando de caneta colorida, papel de scrap, tinta, eva... A gente quer pintar uns desenhos em arabesco na capa tá ligado?

No começo foi visível minha dificuldade. Oi? Scrapbook? Que bicho é esse? O termo é novo e designa decorações personalizadas em cadernos, álbuns e no que você mais imaginar. Mas a minha maior dificuldade foi compreender o que os idosos precisavam:

- Boa tarde mocinha. Você tem a fita de impressora LX300? E rolete Sharp para máquina de escrever, você tem? Bobina para máquina de calcular? Máquina rotuladora?

Minha cara de tacho era muito perceptível. Oi? De que universo saíram essas coisas? Com o tempo fui aprendendo mais, e descobri que essas máquinas não são bichos de 7 cabeças. Mas, as vezes só são caprichos de pessoas mais velhas que não conseguiram se adaptar com aparelhos mais modernos, e continuam utilizando as antigas.O mais difícil é explicar para esses senhores, que muitos formulários que antigamente eram encontrados prontos, hoje em dia foram extintos:

- Eu quero de um formulário para preenchimento de requerimento de advertência, do patrão para o funcionário.

- Hm.. Senhor, esse tipo de formulário não é mais encontrado pronto, pois hoje em dia é tudo feito no computador e não mais preenchido a mão.

Eles têm bastante resistência em aceitar isso, e a culpada sempre acaba sendo eu.  “ Como vocês não tem isso? ”, reclamam eles. Muitos idosos recusam-se a manusear esse “monstro” chamado computador.

Eu fui criada junto da minha vó, mas a outra menina que trabalha comigo e só convive com seu pais, que são jovens, não conhece muito das expressões antigas. Certa vez um senhor estava contando que ele trabalhava numa empresa, onde passava o dia cortando as “fazendas”. Eu prontamente compreendi que ele se referia a fazendas (pedaços) de tecido, porém minha amiga esperou para que ele fosse embora e me perguntou, confusa: “Ele passava o dia cortando sítios????”.

Depois de tanto tempo trabalhando na papelaria, já sei o que procurar quando algum senhor me pede um "formulário contínuo 80 colunas 1 via razão”, ou uma bobina para impressora de cheque.  Sei também o que vender quando um jovem, que está fazendo faculdade, talvez de moda ou arquitetura, pede-me uma folha de papel sulfurise, pincel com pelo de marta, ou um godê.  Mas sem sombra de dúvida, a cada dia aprendo coisas novas com essas pessoas, independentemente da sua idade.

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