quarta-feira, setembro 23, 2015

Conflitos entre gerações

Por Francieli Corrêa

Para quem nasceu há mais de três décadas é um tanto difícil se acostumar com a forma agitada e ansiosa como os mais jovens resolvem seus assuntos do dia a dia. Mais complicado ainda é se inserir em um mundo onde a tecnologia predomina e se atualiza todos os dias. Hoje, chega a ser anormal não ter contas nas redes sociais. O que dizer então de quem não tem um celular ou adquire o seu primeiro aparelho aos 65 anos, por exemplo?

Para os sexagenários, na sua mocidade ser moderno era ter um rádio, e por muito tempo ainda, ser “descolado” passava longe de andar por aí exibindo o último modelo de aparelho touch screen. A forma mais utilizada de conquistar um amor era através de cartas, bilhetinhos ou músicas na rádio da cidade. Cerca de 50 anos depois já dava para mandar e-mail e SMS. E como entender esse mundo digital que surgiu há cerca de 15 anos? Isso pode ser difícil para quem ainda acha mais bonito escrever cartas. Mais difícil ainda é explicar para um adolescente que a mensagem demorará mais do que 30 segundos para chegar até o receptor desse conteúdo.

Neste conflito de gerações que surge, o maior desafio é tentar conciliar as vivencias dos veteranos com a modernidade dos que chegaram mais tarde no planeta e caíram direto na teia tecnológica. Para alcançar essa conciliação, o primeiro passo é entender que todas elas (Baby Boomers (BB), X, Y e Z) são continuações da história e cada uma delas tem ou teve sua importância para os fatos que fizeram o mundo ser o que é hoje. Depois, o que tem que ser feito é uma tentativa de passar de geração para geração o que se sabe, e isso pode significar passar experiências de Z para BB e vice-versa.

É sabido que os nascidos há menos de 20 anos são mais íntimos da tecnologia e tem um entendimento de novas máquinas quase que inato, isso é fruto da própria educação que essas pessoas – e me incluo nelas – tiveram desde que nasceram. Também é notória a necessidade que sentimos de estar sempre conectados. Não apenas a nossa geração, mas também a Y e a X têm se tornado quase reféns do mundo digital. Não só por descontração, mas muito por necessidade, já que na cidade é quase impossível desenvolver uma atividade profissional sem estar ligado a alguma rede de comunicação.

E os BBs, como estão se saindo nessa nova forma de se comunicar? Tendo uma fonte de estudos em minha própria casa, posso dizer que eles ainda preferem as cartas, mas não dispensam um WhatsApp, afinal, “É bem mais rápido né?!”, foi o que disse a dona Maria (minha mãe). Ela tem 65 anos e comprou seu primeiro celular há pouco mais de um ano, um aparelho ainda com botões, nada de Touch Screen, “porque é muita modernidade”, disse ela. Minha mãe não consegue entender o porquê que a Adriele - minha sobrinha de 12 anos - não vai brincar na frente de casa ao invés de passar o dia todo com o celular na mão. Ela está sempre alertando à jovem que isso pode fazer mal à saúde e que ela está perdendo as coisas boas da vida, como conversar frente a frente com uma pessoa.

Para a Adriele, ouvir música é só no fone de ouvido, o rádio é totalmente dispensável. Cartas? Servem para que mesmo? São as do correio que chegam com as cobranças e coisas do tipo. Mas ela entende a avó e até dá dicas de como mexer no celular. E minha mãe entende ela também. “É essa modernidade”, diz dona Maria. E às vezes elas até cozinham juntas as receitas que a Adriele aprende na internet, e minha mãe, como sempre, tem uma dica que faz a receita ficar ainda melhor, dá os retoques finais no prato. Assim, uma consegue completar a outra. No fundo é isso o que importa: a convivência e a troca de informações entre todas as gerações, seja por carta, e-mail, mensagem do WhatsApp, telefone ou no boca a boca mesmo. O importante é que haja comunicação.

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