quarta-feira, setembro 30, 2015

Perigos do sexting

Por Aline Christina Brehmer

Há sete anos Luciana* viu sua vida mudar de um dia para o outro. Morando em uma cidade pequena, ela nunca imaginou que passaria por uma situação tão constrangedora. Confirnado sem restrições e querendo satisfazer seu namorado, ela encaminhou a ele fotos nuas e em poses comprometedoras e ocorreu o temido sexting. Isso aconteceu em 2008, quando ela tinha apenas 16 anos. O vazamento ocorreu um pouco depois do fim do relacionamento, quando as fotografias foram compartilhadas por e-mail. Passados tantos anos e já em um novo relacionamento, ela não imaginou que teria que reviver a humilhação, porém, estava enganada.

Em fevereiro deste ano as mesmas fotos voltaram à tona e desta vez com ainda mais força, devido a rápida proliferação que o material obteve através do WhatsApp. As imagens chegaram até grupos de conversa do seu pai, que, assim como o restante de sua família, precisou se desligar temporariamente das redes sociais para evitar comentários maldosos e desnecessários. Como Timbó é uma cidade pequena, foi fácil perceber que todos os olhares eram voltados à ela com reprovação e fortes críticas.

Seu ex-namorado Igor* disse que não tinha nenhum envolvimento desta vez, e que, provavelmente, algum de seus antigos amigos que tinham as fotos decidiu republicá-las. Luciana não sabia como reagir mas obteve apoio familiar e também do novo namorado – para o qual já havia contado toda a história de 2008 logo no início do relacionamento.

Algo que abafou um pouco as fotos de Luciana foi o fato de que, na mesma época, fotografias de outras sete mulheres de cidades da região começaram a ser compartilhadas pelo WhatsApp – ou seja, apesar de ser um escândalo por se tratar de cidade pequena, foi algo passageiro devido a quase rotina de novas fotos que eram recebidas toda semana. Uma destas mulheres inclusive perdeu emprego, não por não aguentar os olhares desconfiados que recebia no trabalho, mas porque seu chefe não conseguiu aceitar o que havia acontecido.

Ainda na mesma época deste ano, um timboense de 23 anos compartilhou um vídeo caseiro que fez sozinho no chuveiro. Ele recebeu fortes críticas e inclusive castigo do pai, mas nem de longe as repercussões foram tão grandes quanto as das fotos de Luciana. Para ter uma ideia, mesmo o vídeo tendo sido encaminhado para uma ‘ficante’, sua atual namorada perdoou a traição e seguiu firme com o relacionamento, deixando a história no passado. Se fosse a situação contrária, as chances de isso acontecer seriam mínimas.

Um levantamento feito pela ONG Safernet – que há oito anos tem um serviço de denúncias online – aponta que em 2014 o número de registros dos casos de sexting aumentou 120% em relação a 2013. No ano passado foram 224 casos registrados, enquanto em 2013 o número não passou de 101 casos.

O sexting é praticado com frequência. Fotos íntimas e vídeos caseiros são compartilhados quase todas as semanas, geralmente, quando o relacionamento termina e os rapazes ou homens decidem ‘se vingar’ – às vezes fazendo uso de um material que suas ex-companheiras nem faziam ideia que existiam. O ato provoca um baque enorme em toda a família, principalmente nos pais que, conservadores, não conseguem lidar com a situação e sofrem junto com suas filhas. O conselho para combater o sexting é que as garotas tenham sempre um pé atrás antes de enviarem fotos ou aceitarem participar de qualquer atividade sexual que seja registrada, afinal, nem todas conseguem arranjar forças para superar a possível humilhação que vão correr no futuro. É importante não esquecer que a exposição de fotos íntimas é crime e deve ser denunciada.

* Os nomes nesta matéria foram alterados para preservar a identidade dos envolvidos.

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