quarta-feira, outubro 28, 2015

Mundos distintos: As dificuldades das antigas gerações em acompanhar a evolução da tecnologia

Por Thomas Madrigano

Mesmo para uma pessoa acostumada aos mais modernos aparelhos eletrônicos, não é simples acompanhar o desenvolvimento tecnológico, tamanha a velocidade com que ele se dá e invade nosso dia a dia. Imaginemos, então, como é complicado para pessoas de outras gerações se entenderem com essas ferramentas da modernidade. Num mundo cada vez mais artificial, para o bem e para o mal, há muita gente com dificuldades de se inserir nele.

Minha vó alegava ter sido a primeira pessoa a ter controle remoto em sua cidade natal. A tecnologia que dona Elza e seu Orlando, meu vô, desenvolveram era à base de barbante. Amarrava-se o barbante no cabo da televisão e quando se quisesse desligá-la bastava um simples puxão para desconectá-la da tomada.

Os dois mal podiam prever que alguns anos mais tarde seria possível desligar televisões usando o relógio. O que dizer da possibilidade de conversar em tempo real com outras pessoas sem precisar usar o telefone, e de modo muito mais prático? Tudo isso seria loucura imaginar. E esses são apenas alguns avanços. A inovação tecnológica vai muito além disso. Neste exato momento, alguém está criando algo novo.

Pois bem, cito minha vó porque pude conviver muito tempo com ela, e assistir in loco suas surpresas, dificuldades e revoltas com a tecnologia. Lembro-me quando ela comprou seu primeiro celular: existia certa antipatia entre ela e o aparelho. Ela olhava com desdém para o celular, como se fosse uma frescura das novas gerações, e fazia de tudo para não usá-lo. Quando precisava atender a alguma ligação, ela o fazia qual uma criança que, contrariada, acata os conselhos do pai depois de todas as suas tentativas darem errado.  

Depois vieram outras novidades - e quase todas com nomes em inglês -, Facebook, WhatsApp, SoundCloud, Twitter, algo muito distante do cotidiano de minha vó. Nascida no início do século passado, e tendo passado grande parte de sua vida no interior de Minas Gerais, a realidade que conhecia era outra: barulho do rio, os diversos animais que viviam na fazenda de seu pai, muita vegetação, fogão à lenha, família reunida para cozinhar e contar histórias.

Lembro-me de passar horas a fio sentado ouvindo-a contar “causos” divertidos de sua infância e juventude. Esses momentos eram mágicos e me transportavam para um mundo do qual eu não fazia parte. Assim como as tecnologias que ela via com os próprios olhos de certa forma a lembravam de que aquele mundo que ela conheceu não mais existia. E todos nós ainda passaremos por isso. Chegará um dia em que nos sentiremos como o estrangeiro, de Albert Camus. Tudo parecerá alheio a nós. A única coisa que iremos querer será reunir a família e contar histórias do nosso passado, e, assim, por algum instante, vivenciar tudo aquilo de novo.

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