quarta-feira, outubro 28, 2015

O machismo por trás dos desfiles da Oktoberfest

Por Carolina Ignaczuk e Janaina Proença

Nicole Santos já se acostumou com as cantadas ofensivas


Todo ano é a mesma coisa. Em setembro, a cidade de Blumenau (SC) começa a se preparar para a Oktoberfest – a maior festa alemã das Américas. A Oktober já está em sua 32ª edição e embora muita coisa tenha mudado de lá para cá, algumas atitudes continuam as mesmas. Infelizmente, relatos de assédio são comuns para as mulheres durante o mês de outubro. Eles acontecem em todos os lugares: nas ruas perto de suas casas, nos pavilhões da Vila Germânica ou nos desfiles tradicionais na rua XV de Novembro. 

A grande pergunta é: como lutar contra algo que está tão enraizado em uma festa tão grande como essa? A questão fica ainda mais problemática, quando esse ano, em uma campanha infeliz para promover a Oktoberfest, a Brasil Kirin, cervejaria patrocinadora oficial do evento veiculou uma propaganda machista, mostrando as mulheres da cidade como parte das “atrações turísticas”.

São poucas as mulheres que não vivenciaram nenhum tipo de assédio no período de Oktober. Elas são de todas as idades, mas não recebem nenhuma atenção da mídia – perante a sociedade, elas não têm voz. Em dias de desfile, apenas por andar pelas ruas, meninas são vítimas de cantadas machistas e ofensivas, isso sem falar nos puxões e passadas de mão que recebem sem consentimento. Foi o caso da estudante de apenas 16 anos, Caroline Seubert. Ela estava caminhando, quando aproximadamente 5 caras vieram ao seu encontro, pegando em seu braço e a chamando de gostosa. Sem saber o que fazer, a menina saiu correndo. “Eu acho que os caras deveriam ter consciência de que o que eles estão fazendo não é legal”, explica.



Essas atitudes já viraram rotina para as blumenauenses que vão aos desfiles. Nicole Santos, de 18 anos, conta que infelizmente considera o assédio normal e que todas as meninas que acompanham a Oktoberfest já passaram por isso. A estudante comenta que, neste ano, isso também aconteceu com ela. “Quando isso acontece, eu fico brava, mas não tem o que dizer. Vai acontecer, a gente já espera por isso”, lamenta.



Toda mulher vira alvo de cantadas

Se as mulheres que só assistem ao desfile são assediadas dessa forma, imagine quem está lá desfilando. A rainha da Oktoberfest 2015, Tamíris Gallois Ficht, conta que apesar dos esforços da organização da festa para torná-la um ambiente voltado à família, as mulheres sofrem todo o tipo de ofensas durante o mês de outubro. Ela explica que já se sentiu abusada e ofendida com a maneira que os homens a tratam durante a Oktober. “Eles acabam extrapolando, pensando que a gente está aberta ao que eles querem. Então, muitas vezes, nos chamam por nomes que não gostamos ou passam a mão em lugares que a gente não gostaria”, relata Tamíris.

A rainha explica que nem é preciso estar desfilando ou andando pelos pavilhões da Vila Germânica com a roupa de realeza. As ofensas – disfarçadas de cantadas – são frequentes. Por isso, há um esforço para transformar a Oktoberfest em uma festa familiar. “A gente não quer uma grande quantidade de pessoas, se elas não forem legais”, comenta Tamíris. O objetivo é trazer turistas que realmente queiram aproveitar a música, a gastronomia e os desfiles, sem ofender ninguém.

A lanchonete Tunga é um dos pontos mais movimentados durante os desfiles
A opinião da princesa da Oktoberfest 2015, Malú de Oliveira, é um pouco diferente. Ela comenta que, durante os desfiles, elas são bem menos assediadas do que dentro dos pavilhões. Malú diz que nos últimos anos, percebeu que o abuso diminuiu e que agora, é mais difícil alguém parar, puxar ou passar a mão nas mulheres. “Se você não dá bola e vira a cara, eles respeitam”, comenta.

Mas as coisas não são assim tão simples. Muitas blumenauenses sofrem com cantadas desrespeitosas – não somente em período de Oktoberfest, mas durante todo o ano. O assédio não é mais nenhuma novidade para elas, mas nem por isso ele será aceito de braços abertos. Este é o recado que as mulheres querem dar à festa mais alemã das Américas.

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